No Rossio estão (ainda?) poucos e têm credo diferente do espanhol. Apesar das afinidades, os nossos cartazes protestam contra o FMI e pedem a renegociação da dívida, gritos de partido; em Espanha pede-se uma nova Constituição, o que é um movimento político. Como escreve Nicolau Pais, aqui. Mas em Espanha começou assim, devagar. E agigantou-se.
É impossível dizer o que vai dar o acampamento do Rossio. Mas é incompreensível que a comunicação social, que tão rapidamente se moveu e comoveu com as revoltas do mundo árabe, não desça as escadas para ver o que passa à porta. Demorámos quatro dias a noticiar as Portas do Sol. Não ligamos as câmaras no Rossio. Que carácter mostra este Quarto Poder? Os jornais não podem ser parte do sistema ensimesmado. Porque os jornais são protectores das libertações e das democracias. Como aconteceu em Tahrir.
Pedro Santos Guerreiro, Passa por mim no Rossio, Jornal de Negócios (27/05/2011)
Durante o dia as conversas são mais informais e limpa-se o local com vinagre, cujo odor penetra o mais fundo que pode nas vias respiratórias de quem ali está. Há tempo para uma aula de yoga ao ar livre e para uma bancada com comida para todos os que quiserem repor energias. Partilha-se sopa, arroz, fruta, leite… o que houver. Umas coisas são trazidas pelos que aqui estão concentrados. “Mas também há pessoas solidárias que nos têm oferecido coisas”, conta. O momento alto do dia acontece às 19h00 quando se juntam umas 300 pessoas. É a esta hora que se cria uma reminiscência da polis grega e é então feita uma assembleia pública onde todos são convidados a intervir, a dar ideias, a denunciar problemas actuais. Ou simplesmente a contarem a sua história, em jeito de catarse colectiva.
Yes we Camp, Público (27/05/2011)
A assembleia popular marcada para as 19 horas desta sexta-feira aborda as revoltas árabes, o Fundo Monetário Internacional (FMI), a arte e cultura, o género e o sistema social e político, conforme um cartão colocado junto a uma mesa, para recolha de testemunhos e apoiantes. Cartazes em espanhol e em português, bem como a bandeira da Islândia, país que declarou a bancarrota, ao lado da portuguesa, estão penduradas na base da estátua D. Pedro IV junto a um cartaz que diz “os nossos sonhos não cabem nas vossas urnas”. “A divida não é nossa” e “Yes we camp” (Sim, nós acampamos) são outros dos cartazes afixados na base do monumento.
Protestos no Rossio contra “sistema” continuam, Jornal de Notícias (27/05/2011)
A Acampada Lisboa promove no sábado uma manifestação entre a Avenida da Liberdade e o Rossio, sob o lema “Democracia Verdadeira, Já”, anunciou o movimento, cujos membros têm pernoitado diariamente, qual campistas, junto à estátua D. Pedro IV. A “acampada”, que contesta o atual sistema político, começou na sexta-feira, no Rossio, em solidariedade com os contestatários que ocupam a Puerta del Sol, em Madrid, Espanha. Diariamente, a Acampada Lisboa promove assembleias populares na praça lisboeta.
Acampada Lisboa promove manifestação no Sábado, Sic-Notícias (26/05/2011)
Para além do trabalho ‘político’ gerado nas Assembleias, há uma rotina que exige que todos os dias as pessoas se inscrevam para desempenhar as tarefas diárias – limpar e desinfectar a calçada, cozinhar, despejar os lixos, pintar cartazes e tornar habitável aquela praça emblemática da cidade de Lisboa. Inspirados nos protestos que desde 15 de Maio mobilizaram milhares de pessoas em várias cidades espanholas (com epicentro na Praça Puertas del Sol, em Madrid), os jovens portugueses dizem-se anti-sistema, apartidários e pacíficos. Juram que têm ideias, prometem propostas concretas e querem provocar uma onda semelhante à de Madrid. Resta saber se, com a chuva que se avizinha, a onda não morrerá na praia.
A acampada Lisboa não é um festival de Verão, Sol (26/05/2011)
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