Que o Sol continue a brilhar para todos e em todo o lado
Enquanto Portugal dorme à sombra da crise, em Espanha há quem esteja acordado mesmo sem os mais graves sinais dela.
Nos últimos dias, em Madrid, o encerramento compulsivo do ponto de informação estabelecido pelo movimento 15M, na Puerta del Sol em Madrid, levou ao despoletar de reacções institucionais e manifestações que puseram a nú a ausência de uma Democracia Verdadeira no Estado Espanhol.
O início
O ponto de informação, que tinha sido instalado a 13 de Junho na sequência do levantamento da acampada, foi brutalmente removido e destruído por mais de 300 polícias e funcionários de limpeza na madrugada de 2 de Agosto (terça-feira). Como reacção o movimento 15M convocou pela internet e redes sociais uma jornada de protesto para aquela praça nesse mesmo final de tarde. Milhares de pessoas acorreram à rua em solidariedade com o movimento 15M.
A reacção institucional e policial
Perante isto, a reacção das autoridades foi inusitada, ilegítima, ilícita e desproporcionada. A praça foi esvaziada de público, o seu comércio e restaurantes encerrados. Mais de 50 viaturas da polícia de intervenção foram colocadas na praça e nos seus acessos. Barreiras e controlos policiais foram instalados em todos os acessos à praça, nos quais todas as pessoas eram identificadas. A permissão de deixar passar era tomada arbitrariamente. A estação intermodal de metro e comboios do Sol, uma das principais de Madrid e essencial ao funcionamento da cidade, foi encerrada por ordem da polícia durante vários dias. Enormes prejuízos foram provocados ao comércio local, que superaram largamente os eventualmente causados pela acampada que tinha decorrido naquele local. Helicópteros policiais foram colocados no ar para controlar os protestos. Tudo isto com o intuito de impedir tanto manifestantes como a população solidarizada com o 15M de acorrer à praça. Ainda assim, estes acorreram, ocupando todos os dias as ruas limítrofes, realizando gigantescas assembleias populares noutras praças (mais de 5000 pessoas reuniram às 00:30 de quarta- feira na Plaza Mayor) e colocando uma intensa pressão pacífica e mediática sobre as instituições e corpos policiais. Realizaram-se, todos os dias, várias manifestações, muitas delas espontâneas. E, na noite de quinta-feira, a polícia carregou brutalmente sobre os manifestantes numa área que estava menos vigiada (junto ao Ministério do Interior), provocando 20 feridos e detendo várias pessoas, inclusive um jornalista.
O desfecho
Apesar da violência as manifestações, protestos e assembleias prosseguiram pela noite e dia seguinte. Uma conferência de imprensa do movimento 15M foi efectuada na sexta-feira. E finalmente, ao final desse mesmo dia, a polícia cedeu na sua vigilância e permitiu que mais de 15000 pessoas acorressem à praça e ali realizassem um protesto pacífico e uma nova assembleia popular. O Sol voltou a brilhar.
Todas estas acções põem a nú a falsidade da democracia que se vive em Espanha, demonstrando de forma clara e evidente que esta não hesita em reprimir e restringir os direitos e liberdades dos seus cidadãos sempre que estes se procuram auto-organizar e utilizar o espaço público para discutir ideias e soluções para a alterar, inovar e Democratizar. Estas acções do Estado Espanhol são merecedoras de profunda reflexão por parte de toda a população, não apenas espanhola, mas portuguesa e internacional. De facto, na sua essência, não são diferentes do que se passou na carga policial de 4 de Junho, no Rossio, em Lisboa
O movimento Democracia Verdadeira Já! reprova a violência policial exercida sobre os protestos pacíficos do movimento 15M e saúda, com alegria, a reconquista da praça e o retorno à normalidade da realização de assembleias e convocatórias de iniciativa popular naquele espaço público.
Força companheiros, estamos convosco, seguimos os desenvolvimentos da vossa luta, inspiramo-nos nela, e estamos certos de que também em Portugal acordará, a breve trecho, a cidadania activa e participativa que construirá uma Democracia Verdadeira Já!.
Assembleia Puerta del Sol, 5 de Agosto (@M_CiMaDeViLLa)